Huyendo de la crítica (Fugindo da Crítica) by Pere Borrell del Caso - 1874 - 75,7 x 61 cm coleção privada Huyendo de la crítica (Fugindo da Crítica) by Pere Borrell del Caso - 1874 - 75,7 x 61 cm coleção privada

Huyendo de la crítica (Fugindo da Crítica)

óleo sobre tela • 75,7 x 61 cm
  • Pere Borrell del Caso - 13 de Dezembro, 1835 - 16 de Maio, 1910 Pere Borrell del Caso 1874

O mundo da Arte abrange muitos mundos. Sustentando mais do que os olhos podem ver, a arte abre caminho para que o observador possa ter acesso aos domínios da mudança de perspectiva, revelando assim, a trilha em direção aos personagens que lá habitam. Ela pinta confidentes, mentores e amigos. Essas são as colunas imaginárias que ajudam a sustentar a realidade, a encontrar alívio em meio a tudo. Essas colunas nos guiam, sussurram as “mentiras” que nos auxiliam a encontrar uma verdade maior. Essa semana eu tive uma conversa reveladora. Eu não esperava que meu amigo fosse entender e nem que eu mesmo fosse admitir, quando eu disse: “Alguns dos meus melhores amigos, na verdade, são feitos de papel” - quando uma pessoa sai do espaço entre as linhas, alguém tão real que vai além de uma existência simulada. Alguém que tem dores e alegrias iguais às suas e que tornou-se uma companhia tão presente no seu dia a dia, que você se pergunta o que ela estaria fazendo exatamente agora. Tive essa experiência com uma “pessoa de papel” em específico: quando abri a primeira página de “Illusions perdues” de Balzac. Eu não tinha ideia de que eu estava prestes a encontrar alguém tão complexo e tão cheio de dimensões que só podia ser feito da mesma matéria que você e eu. Logo fiquei completamente absorvido, a um ponto tão ridículo que se você me perguntasse onde eu estive durante o inverno de 2014, eu teria que fazer algum esforço mental para não responder “Paris, início do século XIX”. Balzac foi um pioneiro do realismo, ele costumava escrever durante horas intermináveis. O café era seu combustível. Ele nos deixou uma enorme obra literária chamada “La Comédie humaine” cheia dos personagens mais vívidos que já passaram por diferentes livros. O que mais me impressiona é uma estranha característica que faz com que esses personagens, que estão sempre em evolução, sejam mestres de si mesmos. Eles vivem em meio às páginas, mas não podem ser manipulados pelo autor, que apenas relata suas ações independentes, enquanto o leitor fica sempre com a impressão de que a qualquer momento os personagens irão simplesmente achar um caminho para fora do livro. Trompe-l’œil, que em francês significa “enganar o olho”, é um estilo de arte que busca quebrar a quarta parede (da mesma forma que Francis Underwood de House of Cards fala com o espectador). Esta pintura de del Caso é, para mim, o exemplo perfeito desse estilo, a Arte procurando alcançar o espectador, consciente de sua condição, mas transcendendo as barreiras, como um narrador que reconhece o leitor e pisca para ele. Eu não vou contar qual personagem de Balzac me deixou com tal impressão ao ponto de tornar-se meu amigo, mas irei fazer essas perguntas a você: Alguém ou alguma coisa já te ajudou a superar momentos difíceis? Você já compartilhou algum segredo com um amigo que esteja confinado em um mundo diferente? Oscar Wilde certa vez disse: “A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida”. Eu concordo completamente com isso.

Artur Deus Dionisio