Louis Bouquet após Jacques Barraband
Será possível que um papagaio-cinzento contradiga o seu nome e ser tão vermelho? Seria esta coloração viva apenas pura fantasia do autor, que, aliás, foi acusado de criar pelo menos 20 espécies não-existentes de aves?
Nos primeiros anos do século XIX, François Levaillant (1753-1824), um famoso ornitólogo, ativo no círculo do Imperador Napoleão, trabalhou com o ilustrador Jacques Baraband (1767?-1809) para criar enciclopédias monumentais de história natural, consideradas valiosíssimos documentos em termos de valor artístico. Surgiram centenas de aguarelas, que eram depois copiadas com a técnica rara e laboriosa da gravura a cores. Primeiro, aplicavam-se tintas coloridas a uma única placa de cobre. Em seguida, a imagem era impressa em papel. Os tons subtis obtidos desse processo eram retocados no final com aguarela ou tintas guache. O hiperrealismo e a extravagância dessas imagens científicas sugerem outro objetivo. De facto, eram feitas para clientes ricos ou financiadas por mecenas poderosos para demonstrar opulência e influência geopolítica.
Tendo passado a sua juventude na Guiana Neerlandesa (Suriname) e viajado extensivamente por África, Levaillant havia observado de perto o comportamento de aves exóticas, desenhado pormenorizadas descrições, e recolhido provas e outros elementos. Apesar de, por vezes, ter combinado características de espécies diferentes numa imagem, alguns papagaios-cinzentos africanos têm mesmo penas vermelhas!
Hoje em dia, espécimes como este aqui retratado são chamados papagaios vermelhos. A sua coloração é causada por uma mutação genética que ocorre naturalmente, mas que, há muito tempo, os criadores procuram reforçar e intensificar. Observa atentamente a imagem. Repara que os gravuristas usaram tinta vermelha - não preta - para contornar a plumagem colorida. Contornos pretos teriam prejudicado o efeito visual do vermelho.
Esta e outras imagens de enciclopédias de história natural podem ser admiradas na exposição Plantas e Animais no Museu do Palácio do Rei João III em Wilanów, em Varsóvia, na Polónia. :)
P.S. Espreita a incrível arte botânica de Barbara Regina Dietzsch aqui.